Mais que uma biografia da escritora, é antes uma sensível interpretação crítica e psicológica de sua obra. Se bem que no caso de Clarice escrita e escritora frequentemente se fundem tamanha peculiaridade do universo único e por que não íntimo que encontramos em sua obra. Clarice foi feita para a literatura, "já criança fabulava", e a literatura foi o alívio para sua inquietude onde pôde estar mais perto do coração selvagem, onde pôde ser Joana e não mais Clarice.
Em Clarice, Benjamin Moser, num trabalho de grande volume de pesquisa e de muita sensibilidade, além de analisar criticamente grande parte da obra da autora, nos faz mergulhar no universo introspectivo lispectoriano tanto da obra quanto da autora, afinal de contas ainda se trata de uma biografia, de maneira que nos deparamos com as epifanias mais clássicas da autora quase como se as estivéssemos compartilhando com a própria Clarice. As correnspondências de Clarice, expostas no livro em grande volume, nos aproximam mais ainda do reconhecimento de toda a essência de sua obra. Reconhecemos suas personagens e suas angústias na própria Clarice e automaticamente ou melhor, psicologicamente relemos sua obra.
Enfim, depois de Moser melhor mesmo é reler Clarice pois como a própria autora dizia, a sua obra ganhava com a releitura!