quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Pena e chumbo


Acordei e era tanto peso, mas tanto peso, que mal pude respirar. Pensamentos de chumbo e estômago gelado, demorou um bom tempo até que pudesse levantar.
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O cheiro e a fumaça do café tomaram conta do ar e despertaram os pulmões que até então sofriam pra trabalhar. A primeira xícara serviu pra inalação apenas. A segunda foi para o resto despertar.
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Agora com o corpo desperto o peso fica mais real. Mais exato em medidas. É preciso escrever quilos de frases, arrobas de sentidos.
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Os primeiros sentires do dia são os mais difíceis de arrancar do juízo. Grudam na pele, dão câimbras e tiram o apetite. A terceira xícara de café é pra ocupar o espaço vazio que insiste em gelar.
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O importante é sentir devagar, traduzir as pedras e soltar. O primeiro sentir capturado, alinhavado, fica manso e até bonito. Um quase sorriso.
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Agora eles vêm em blocos, os sentires. Como um britadeira, os trago e os quebro no ar. Escrevo e escrevo mais. Começo então a formigar e sinto calor por todo lugar.
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Vou ficando leve, mas tão leve, que vou deixando de estar. De sentir. Sorrio de todo o peso. Evaporo doce pelo ar.
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