domingo, 3 de maio de 2020

2020. o diário do mundo. 5




Descobrimos, nesses dias a sós com o que achávamos que éramos, que cristalinamente não somos os mesmos.
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E que trocamos de pele qual réptil várias e várias vezes. E que quando se trata da gente nem parece tão grotesco, mas somente a busca pela camada perfeita à qual muito certamente não se chega.
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Sempre achamos que somos melhores por dentro. Descamamos pela alma terna. Quem dera! Em alguma outra era. Seremos.
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Sobramos nós e o espelho. Um a zombar do outro sem risco de fugas, minha, sua ou dele. O que ele diz com minha voz, eu receio, não condiz com a verdade dos meus anseios.
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Depois de crus e nus e sem pele, como poderemos com o que sobra de nós mesmos?
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Arte: Antoine Wiertz. "A Bela Rosine (Nu com Esqueleto), 1843.