segunda-feira, 22 de maio de 2017

a procissão de Maria



Toda noite, quando era hora de parar em algum lugar que se fizesse mais protegido, armar barraca e desenrolar a cama, descansar de tanta andança, ela dormia, ele nem tanto. Isso porque ela continuava a andar mesmo tendo parado para dormir. Sonambulando por aí.
- Volte, Maria, volte. Por aqui, minha filha, isso, deite aqui.
Ai, que é isso toda noite. Já não basta pra ela andar o dia inteirinho, tem que fazer passeata de noite também. Essa deve gostar de procissão!
Agora tá bom porque inda posso dormir um tantinho. Amarro essa corda na cintura dela e seguro a outra ponta. Se ela levanta acordo na hora. Antes quando não tinha pensado na corda ficava dormindo acordado. De manhã a danada tava descansada, toda feliz e andante e eu, morto de sono e cansaço.
Minha Maria, a cintura foi ficando tão fina que a corda até espichou. Qualquer dia desses tu some, mulher!
Maria é toda pequenina. Pele morena, cabelos morenos e uns olhos redondos e grandes. É linda, minha pequena! E olhe que era bem mais, muito mais bonita quando a gente tinha a vida quieta num canto só.
Sonambulava pela casa, é bem verdade, mas tinha porta pra segurar minha santa em casa, não precisava amarrar com corda. Agora não dá pra vacilar.
Engraçado esse negócio de sonambulismo, ela faz uma porção de coisas e diz que não lembra de nada. Eu sonho, sonho e não saio do lugar nem o sonho sai da minha cabeça. Às vezes acho que é tudo um sonho sempre.
Não consigo lembrar como foi que chegamos aqui.
Ela anda sonhando e eu só sigo andando, pois tenho fé que um dia chegamos em algum lugar.