Vivemos desde sempre entre insatisfações e angústias. Desde sempre, um probleminha aqui, outro logo ali; um dia difícil hoje, outro bem pior amanhã. A cidade está ficando impossível. Quanta insegurança, ninguém sai mais às ruas sem levar consigo um temor no peito e nos olhos. Dois filhos. Sei não, a educação não vai nada bem. Melhor cuidar da saúde, evitar o sereno, como dizia mamãe. E o trabalho. Difícil ter, difícil manter, mas o problema mesmo é chegar lá.
E continua, numa litania, num canto de tristeza: aqui, ali, rua, medo, ontem, hoje, há tanto tempo, filhos, educação, cansaço, corpo e mente nada sãos. Uma espécie de canto sitiado pelos assombros urbanos às nossas portas. E quando atravessamos a porta, para o desde sempre das ruas, só pensamos em voltar para o refúgio da cabana, quando finalmente podemos parar de cantar.
Mas hoje queremos cantar diferente, queremos sair das nossas fortalezas, queremos o canto alto daqueles que por tanto tempo dividiram, em silêncio, o mesmo temor. Tantos, muitos, milhares, a se reconhecerem e tomarem emprestadas as vozes uns dos outros. Que o nosso canto ensurdecedor afaste os nossos fantasmas de desde sempre.
Quem sabe assim voltaremos a cantar em nossos lares.
Recife, 20 de junho de 2013.