domingo, 24 de abril de 2016

afasia

Minha cabeça dói de tanto tentar
face a face com o indizível tentando nomear.
Rói a esperança e a vontade de continuar.
Que diabos tu dizes que não sei escutar?
Que língua é essa cujos fonemas eu entendo
mas passo longe de decifrar?
Agora teu rosto me parece grotesco,
vomitando grunhidos sem cessar.
Resta, em vão, retrucar:
cala boca, fantasma, e vê se some no ar.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

a caixinha da bailarina


A menina bailarina guardava tudo em sua caixinha,
que ela abria com cuidado para o encanto não fugir.
Tinha um amor, e muitos sonhos,
que ela guardava bem ali.
Bem ali, ao lado da valsinha,
bailarina de resina, a pobrezinha.

A menina bailarina, prisioneira da caixinha,
fechava os olhos pra sentir:
a valsa, os passos, o tato, o rubor.
Sentia tudo e devolvia depressa,
encaixando a tampa na ponta dos pés,
a triste bailarina aprisionada.

Melhor seria se não houvesse.
caixinha, bailarina, o segredo da menina.
Mas quem haveria de ter, no mundo,
amor mais perfeito do que o da bailarina?