Desde criança Sônia já praticava a telepatia. Sonhava alerta no jardim de sua casa. Amiguinhos telepatas. Joaninhas, borboletas, formigas, lagartas, bichos da terra, até as paquinhas que moravam debaixo das pedras. Conversas vespertinas com cheiro de tera molhada.
Já vooooou!
A mãe não era telepata.
Volto já, meus amigos. Maravilhoso o mundo de vocês. Quase sempre não se fazem perceber.
Tic-tac, musiquinha que dá sono. Na cozinha com minha mãe nunca ouço o que ela fala. Tic-tac, meus olhos ardem. A conversa com o relógio dá sono.
Quando estou no jardim não penso nas horas. Na escola eu penso no jardim.
Tô chegando...
De noite que está tudo silencioso é quando gosto mais. Penso do meu quarto e começo a conversar. Levanto as pedras e elas estão lá. Também tem os fantasmas que são muito telepatas. Falam, falam e falam. Deixa falar. Aí, converso com o relógio, tic-tac, tic e o meu sono chega logo.
Aaai, difícil de acordar! Mãe, só mais um poquinho, um tiquinho de nada, vai!
Não adianta, a mãe não é telepata.
Na minha escola tem uma santa com quem eu gosto muito de falar. Mesmo quando passo por ela fazendo de conta que não a vejo tenho que voltar. Azulzinha e sorridente, não dá pra disfarçar, fico então a conversar. Na minha escola tem também muitas pinturas, guarda-chuvas, lancheiras, cadeiras, quadro, professora, corredor, recreio, até jardim tem. Penso novamente no jardim da minha casa. Mas nem tudo tem voz. Os meninos falam muito alto. O relógio do colégio não fala.
Humm, adivinha o que estou pensando agora...
Sei lá, você só pensa em besteira.
Penso nada!
Pensa sim!
Eu sei o que você está pensando, quer ver?
Meu irmão é mais velho do que eu. Ele é bobo, não gosta do jardim, mas eu gosto muito dele. Ele é bonzinho comigo e acho até que converso com ele quando estamos dormindo.
Tá certo, eu sei o que você está pensando.
O que?
Em nada.
Como assim, em nada? Não se pensa em nada!
Tá vendo! Agora você está pensando em nada, se está falando é porque tá pensando agorinha mesmo.
Assim não vale!
Irmão telepatinha. Eu sei que é ele que manda calado os fatasmas falantes irem embora. Melhor assim porque euzinha não dou conversa pra esses assombrosos. Fico caladinha da silva!
Não sei, acho que quando pensamos igual ao outro viramos telepatas. Por isso estamos unidos. É isso que une a gente. Aí a gente gosta do outro, porque o outro gosta das coisas como a gente. É assim com meu pai e minha mãe. Eles dizem que se amam. Amor telepático!
O relógio gosta só do tempo. Gosta mas não tem medo. Conversa com ele o tempo todo. Tic-tac, tic-tac...eles gostam da mesma coisa. Eu fico com sono toda hora.
As meninas do colégio dizem que falo pouco. Ué, mas eu penso tanto! Penso falando e falo com o pensamento.
Tão bonzinhos meus amiguinhos do jardim! São os mais lindos dos mais lindos! Amor telepático!
Quando eu crescer quero ser viajante. Procurar no mundo inteirinho amores e mais amores...
Já vooooou!
A mãe não era telepata.
Volto já, meus amigos. Maravilhoso o mundo de vocês. Quase sempre não se fazem perceber.
Tic-tac, musiquinha que dá sono. Na cozinha com minha mãe nunca ouço o que ela fala. Tic-tac, meus olhos ardem. A conversa com o relógio dá sono.
Quando estou no jardim não penso nas horas. Na escola eu penso no jardim.
Tô chegando...
De noite que está tudo silencioso é quando gosto mais. Penso do meu quarto e começo a conversar. Levanto as pedras e elas estão lá. Também tem os fantasmas que são muito telepatas. Falam, falam e falam. Deixa falar. Aí, converso com o relógio, tic-tac, tic e o meu sono chega logo.
Aaai, difícil de acordar! Mãe, só mais um poquinho, um tiquinho de nada, vai!
Não adianta, a mãe não é telepata.
Na minha escola tem uma santa com quem eu gosto muito de falar. Mesmo quando passo por ela fazendo de conta que não a vejo tenho que voltar. Azulzinha e sorridente, não dá pra disfarçar, fico então a conversar. Na minha escola tem também muitas pinturas, guarda-chuvas, lancheiras, cadeiras, quadro, professora, corredor, recreio, até jardim tem. Penso novamente no jardim da minha casa. Mas nem tudo tem voz. Os meninos falam muito alto. O relógio do colégio não fala.
Humm, adivinha o que estou pensando agora...
Sei lá, você só pensa em besteira.
Penso nada!
Pensa sim!
Eu sei o que você está pensando, quer ver?
Meu irmão é mais velho do que eu. Ele é bobo, não gosta do jardim, mas eu gosto muito dele. Ele é bonzinho comigo e acho até que converso com ele quando estamos dormindo.
Tá certo, eu sei o que você está pensando.
O que?
Em nada.
Como assim, em nada? Não se pensa em nada!
Tá vendo! Agora você está pensando em nada, se está falando é porque tá pensando agorinha mesmo.
Assim não vale!
Irmão telepatinha. Eu sei que é ele que manda calado os fatasmas falantes irem embora. Melhor assim porque euzinha não dou conversa pra esses assombrosos. Fico caladinha da silva!
Não sei, acho que quando pensamos igual ao outro viramos telepatas. Por isso estamos unidos. É isso que une a gente. Aí a gente gosta do outro, porque o outro gosta das coisas como a gente. É assim com meu pai e minha mãe. Eles dizem que se amam. Amor telepático!
O relógio gosta só do tempo. Gosta mas não tem medo. Conversa com ele o tempo todo. Tic-tac, tic-tac...eles gostam da mesma coisa. Eu fico com sono toda hora.
As meninas do colégio dizem que falo pouco. Ué, mas eu penso tanto! Penso falando e falo com o pensamento.
Tão bonzinhos meus amiguinhos do jardim! São os mais lindos dos mais lindos! Amor telepático!
Quando eu crescer quero ser viajante. Procurar no mundo inteirinho amores e mais amores...
Um comentário:
Lindo texto, Ana; de uma beleza comovente. Parabéns!Marcia
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