quinta-feira, 25 de julho de 2019

batente


O portão daquela casa que não é minha nem dela, mas se fosse, quem dera, talvez em uma outra era, sentiria um passante, que jamais seria eu ou ela, o calor que escapa daquela janela.

Mas se por acaso fôssemos nós por ali passando, saberíamos que naquele batente se daria o paradoxo dos amantes estradeiros que sonham em se ver de dentro e de fora de seus aposentos.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Contos de desamor

Não confunda minha liberdade com sua estupidez.
O que sou eu e o que voce não deveria ser.
Não confunda, meu bem.

Estamos cansados de falar sobre você.
Tenho retratos de uma estrada inteira de amor, mas perdi os seus.

Não faça o tipo encenado meio amante meu,
Enquanto vela seus desejos, descubro os meus.
Ai, ai que você nem percebeu.

Na sua casa espelhada, de portas aparentemente escancaradas, só cabe você.
Não confunda meu humor com sua falta de sensatez.




segunda-feira, 15 de julho de 2019

Teu xaxim

- lembras que te falei que teus olhos eram olhos de xaxim?
- sim, olhos de xaxim...confesso que ainda não compreendi.
- não precisa, suas raizes marrom fibrosas já chegaram até mim...
- como assim?
- nada não...
- meus olhos?
- raizes!
- quê?
- fibrosas!
- ah sim, do xaxim.
- isso. O avesso da erva daninha que se espalha, o enxerto certeiro, sabes?
- talvez saiba, não sei...
- vais saber logo mais em mim.

corredores da estrada

A imagem pode conter: planta e atividades ao ar livre



Aprendi a buscar o conforto nas janelas que acendem pra fora enquanto faço da longa estrada o meu lar.


Aquela luz que acalanta uma outra criança que, como eu antigamente, desconfia de cada canto que não pode enxergar.

A chama amarela que ilumina a leitura, clareia as ceias conjuntas, desvenda as molduras, vista daqui de fora, não me deixa esfriar.

Assim sigo colecionando os calores dos lares corredores dos meus passos, fazendo o medo dos fantasmas do breu do caminho dissipar.

domingo, 7 de julho de 2019

Quando aceitei olhar nos teus olhos


Sementeira essa vida inteira que brota dos teus olhos redondos como dois xaxins,

castanhos e fibrosos,

suspensos e guardados pelas mesmas telhas cuidadosamente empilhadas por mim.

Resta a rega, a poda, a luz do dia e da vida,

pra te fazer brilhar as pupilas e derreter tudo mais em mim.

terça-feira, 2 de julho de 2019

VIII. Sereno

Naqueles dias de beira de estrada, de pausa necessária, o sereno temperava tudo quando amanhecia.
Frágeis horas que filtravam as nossas cabeças naquele pouso sem mobília.
Queria que aquela morada impossível, a ceu aberto, fosse infinita.
Queria a estrada sem despedidas.
Sentia apertar no peito aquilo que não seguiria.
Outras beiras, outros pousos, outros encostamentos. Ficaremos mais um dia.
Pensei em dizer tudo que sentia. Fazer promessas, te segurar forte, me apegar àquela moradia.
Afasia. Da minha boca saíram ideias outras contrárias ao que pretendia.
Das ideias restaram nossos corpos quentes do calor do dia.
Os corpos calaram. Amanhã serenaremos logo cedo, deixando pra trás tudo que foi aquela estadia.