sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Mato


Oh, natureza arteira, tentando ensinar ao homem a forma certa de amar.
Ah, mato irônico, se fazendo icônico, dando a outra face sem conseguir nos desarmar.

Quem dera o coração do homem bombeasse uma outra seiva e alimentasse um outro fogo, fazendo todo o sangue estancar.

Aprendesse a se desmanchar pra renascer,
a arte de brotar do que parece podre,
ao invés de apodrecer tudo que esplende a essência de viver.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Corpo

Mas que cruel ironia perceber que quando se tem a alma a tremer se corporifica a pele, os músculos, os órgãos e o sangue, fazendo tudo doer.

Queria um corpo desconectado das agonias dos sentires do espírito, livre de paralisias, ondas de gelo e falta de ares, um corpo somente.

Queria os olhos independentes da alma, cartesianos, seletivos, com lentes protetoras dos raios todos da vida. Olhos que decodificam as massas e suas cores, apenas. Olhos que não enxergassem o que minha alma insiste em absorver.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Beija-flor


Como faz pra bater as asas sem querer sair do lugar?

Voar parado que é pra dar o tempo do beijo sem pouso, suspenso no ar.

Da liberdade namoradeira, parar pro cortejo que faz a flor levitar.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Dobro não

Dobrou a esquina, percebeu a rua mal assombrada, a frouxidão nas pernas, sentiu o peito gelar.
- Será que dá pra voltar?
A ré sempre dá mais trabalho, além da manobra, exige o esforço de abstração do que não se fez.
- Melhor seguir de vez.
Bem certo de dar tudo errado, o ar tá pesado demais, anyway.
- Fazer o quê?
Essas vias que anunciam a armadilha que se sente por telepatia sem se saber por quê.
- Déja vu, pode crer.
Talvez. Mas sabia que haveria de ter entre tantas idas e vindas com o desprazer. Ou qual seria o propósito de sair do lugar?
- Melhor capturar as cores dos revezes e fazer tudo que é oposto brilhar.